O Rei, "seu" rio e a Bruxa
- Fernanda J Passos. PHC
- 26 de mar. de 2018
- 6 min de leitura
Atualizado: 26 de abr. de 2018

Era uma vez um rei tão poderoso e tão cruel que não escutava ninguém,
nem mesmo sua rainha, que mesmo sendo ambiciosa sabia como tratar as pessoas e a natureza ao seu redor. Um dia o rei decidiu que queria mais água em seu reino, a ponto de os outros reis terem de lhe procurar para pedir por água, então ele mandou que seus homens e criados desviassem um rio que por ali passava para que desaguassem em suas represas. - Minha alteza - falou sua mulher - Esse rio passa por um pequeno reino que tem mais à frente. Se desviares ele o povo desse pequeno reino não terá o que beber. - Claro que terão. Se eles me pagarem. O rio passa pelas minhas terras, por é meu e eu faço com ele o que eu bem quiser. - Mas minha alteza - Com o que me pagarem tu terás mais joias e vestidos e continuará sendo a rainha mais bela de todo o mundo. A rainha que mesmo pensando nas consequências que poderiam ocorrer, calou-se ao pensar nos novos vestidos e joias para sua coleção. E assim foi feito, o rio foi desviado, deixando que uma pobre e pequena aldeia tivesse que pagar e trabalhar para poderem ter água para beber. Mas o que o rei não sabia e nem a rainha, era que aquelas águas também passavam perto da casa de uma bruxa que vivia afastada de tudo e todos, para não cometer mais maldades as pessoas. Ao perceber que não tinha mais rio para utilizar suas águas, a bruxa saiu a procura de mais. primeiro passou na pobre aldeia, e viu por lá crianças e mulheres morrendo de sede e fome. Pois o rio que passava por ali, eram usados para regar as hortas, para dar também aos animais e também para manter a floresta em tono sadia. A bruxa, ficou muito mais brava e continuou a procurar por água, até que chegou no grande reino, onde o rio era desviado para cair em uma enorme represa. Com sede a bruxa chegou até um homem da guarda real e lhe pediu um copo de água. - Se quiseres matar tua sede, terá de pagar cinco moedas de prata. - Mas eu não tenho moedas de prata, meu senhor. - Como nosso rei é bom, ele permitirá que tu trabalhes em suas minas por um dia, até conseguir prata o suficiente para pagar um copo de água. - Mas isso não é justo, a água é para todos gratuitamente. - Sem prata, sem água. - Quero falar com esse rei. - Se não tem moedas de prata para beber água, não possui glamour suficiente para falar com vossa alteza. A bruxa então saiu da presença do soldado, e passou dois dias mendigando moedas pelas ruas do grande reino. Até que viu o rei e sua rainha coberta de ouro passar pelas ruas, a sua frente crianças pobres varrendo a rua e jogando pétalas e flores para que suas altezas pudessem passar. O casal também estava cercado de homens armados que empurravam os pedintes e curiosos que queriam falar com o rei e sua mulher. Possuidora de magias a bruxa apareceu na frente do rei ajoelhada e com a mão estendida. - Meu rei, sou pobre e velha, passo fome e sede. Se puderes me dar uma taça com água serei eternamente grata. O rei riu do que viu em seguida ordenou que seus homens a chutassem para fora de seu reino. - Eu decreto agora que para viveres em meu reino, terá de ter minha permissão e essa velha não tem. Mas antes que fosse tirada da frente do rei, a velha bruxa se levantou e tirou sua capa revelando ser muito mais bela e muito mais elegante que a própria rainha. - O que é isso? Quis saber o rei. - A água é da pela natureza, para que todos possam desfrutar de suas purificações, e nunca cobrou nada em troca. No entanto você se acha o dono dela. Mas isso não ficará assim. Se não deixar o rio continuar com seu percurso natural, o próprio rio terá sua vingança e eu também. Com medo, o rei mandou dar a bruxa uma carroça com um barriu de água. Mas a bruxa, não fazia questão daquilo, mesmo assim aceitou. Naquela noite enquanto a rainha tomava banho em sua tina de madeira, mergulhou a cabeça para relaxar um pouco, mas o seu cordão de prata e ouro que carregava no pescoço se prendeu impedindo que a rainha voltasse a superfície, como estava sozinha a rainha morreu afogada. O rei ao saber, correu para o quarto de banho da rainha e perto da janela o barriu de água que deu a bruxa. Irritado e laranja, o rei mandou que procurassem a bruxa por todo o reino, mas ela mesmo compareceu de bom grado em sua presença na sala do trono. - Me procuras? - Sim, você matou minha rainha. - Não, a água e a ganancia dela a mataram, para te alertar. - Tenho certeza de que foi você que fez isso. - Não odiável rei, eu serei muito mais cruel se não devolveres o percurso natural do rio. Ao dizer isso a bruxa se retirou. Deixando o rei sozinho no seu trono. Teimoso e arrogante o rei mandou que matassem todos os pobres que estavam trabalhando nas minas para pagar por água e que jogassem seus corpos em praça pública. - O rei informa que não será mais permitido pedir esmolas no seu reino, e que não ajudará mais os pobres. Nem desse reino e nem de outros, e aquele que for pego ajudando essas pessoas também morrerão. O rei também informa que isso é culpa inteiramente da bruxa que tirou a vida de sua amada esposa, a rainha. Naquela noite o rei teve medo de que a bruxa o matasse com a água e por isso tomou apenas vinhos, e passou ficou sem banho para dormir. No dia seguinte, o rei foi acordado com lambidas de porcos em um chiqueiro um tanto longe de seu palácio. - O que estou fazendo aqui? - Péssimo dia odiável rei. - Bruxa! - Notável. Assim como também é notável que vestes roupas de péssima qualidade, e que está tão fedido e tão sujo quanto um porco. - Essa é sua vingança? Me sujar? - Sim. Mas também não falará mais. Duvidando da bruxa gargalhou, e a bruxa jogou dentro de sua boca um carvão brasa, e forçou-lhe fechar a boca. Quando finalmente o libertou o rei não conseguia mais falar direito e sentia muita dor. E a bruxa sem dizer mais nada saiu dali tranquilamente. O rei, começou a procurar por água que aliviasse a imensa dor que sentia dentro da boca. Foi de casa em casa, mas ninguém conseguia entender o que falava, e por medo de morrerem pelas ordens do rei, o expulsavam de sua frente. Um dos soldados o encontrou, mas acreditando que era apenas mais um mendigo, amarrou-lhe os pulsos e o puxou para a praça principal. O rei por mais que tentasse se explicar não conseguia, outros soldados e outras pessoas que apoiavam a tirania do rei, jogavam-lhe pedras e frutas pobres, algumas até cuspiam nele. O caminho foi longo até chegar a praça principal. - Onde está o rei? - Quer passar o dia em luto por sua esposa e não quer ser incomodado. - Tenho aqui um pedinte! O que faço com ele? - Mate-o! O homem que lhe puxou até ali, pegou sua espada e atravessou o pescoço do rei, tirando-lhe a vida. Naquele mesmo momento as vestes sujas que o rei usava, voltaram a ser o que realmente eram, as vestes do rei. E em sua cabeça sua coroa voltou a aparecer. A bruxa surgiu ao seu lado sentada alegre e elegantemente. - Agora que o rei está morto, espero que devolvam o percurso natural do rio. - Se levantou e foi embora para casa. Com medo do que mais poderia acontecer, os próprios soldados e nobres que viviam naquele lugar devolveram as águas o seu caminho natural, voltando a sustentar a pobre aldeia e a correr em frente à casa da bruxa que voltou a ficar tranquilamente em sua casa afastada de tudo e todos.
Ainda havia mais uma coisa para acontecer. O rei encheu muito a represa, e ela se rompeu destruindo o seu reino e afogando todos do reino, até suas mortes.
E fim!

Komentarze